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26 maio 2011

E agora, homem ou mulher?



A cultura tem um papel fundamental na construção da identidade de gênero e sexualidade. Antes mesmo da criança nascer já é criada toda uma expectativa em torno do gênero masculino ou feminino. Assim, se o sexo do bebê for masculino, os pais já imaginam ter um filho jogador de futebol, um garoto “pegador”, planejam colocar o filho na escolinha de futebol ou nas artes marciais e a decoração do quarto é feita em cor azul com figuras de carrinhos ou do homem aranha. Agora, se for mulher, pensam que a menina poderia ser modelo, que será uma moça comportada e delicada, com traços de princesa – com toda a força do simbolismo da palavra. O quarto é decorado em cor rosa, com figura da boneca Barbie. Dessa forma, antes de nascer a criança biológica, nasce uma criança na fantasia, no desejo, carregada de valores e expectativas.
Na infância, os pais, a igreja e a sociedade como um todo ditam as regras, o que é certo e o que é errado. Como mostra o filme, desde cedo é dito que meninos não brincam de boneca e meninas não jogam futebol. Os pais aparecem como um modelo a ser copiado ou rejeitado. Dessa forma, como afirma Simone de Beauvoir, vai-se tornando homem ou mulher, em um processo de construção e reconstrução constante. Logo, assimilam-se valores, crenças, regras e passa-se a acreditar que elas são corretas, são verdades absolutas. Esse processo cria nossa identidade, mas também pode gerar preconceitos, pois se existe o “certo”, passa a existir o “errado”. Assim, quando um menino é visto brincando de boneca, além de ser repreendido, é discriminado se persistir no comportamento considerado inadequado.
Percebemos que esse processo de construção da identidade, de tornar-se homem ou mulher, não é natural, inato, biológico, pelo contrário, é construído sócio-historicamente. Em cada contexto social, em cada relação vamos nos formando e confirmando o que somos.