Essa tal de inclusão
“Tudo estava aparentemente tranqüilo na sala de aula e na escola até que inventaram essa tal de inclusão e nós, os professores, não estamos preparados para lidarmos com essas crianças”.
“Não damos conta nem dos ditos normais quanto mais dos deficientes!”
Essas frases são comuns entre professores e longe de ser somente uma crítica é uma questão que tira o sono e angustia vários educadores que se viram frente a frente com a inclusão. Para tentar minimizar essas angústias proponho analisarmos as entrelinhas dessas frases com uma “lente de aumento”.
“Tudo estava aparentemente tranqüilo...” Nesse sentido a palavra tranqüilidade dá a entender que antes da inclusão tudo na escola estava sendo bem conduzido, havia um equilíbrio nas relações interpessoais, no ensino/aprendizagem, não havia insatisfações para os docentes, nem para os discentes, no entanto sabemos que no contexto escolar essa “aparente tranqüilidade” sempre foi permeada de inquietações, de insatisfações e alienação.
“Não damos conta nem dos ditos normais...” Essa questão abre uma ampla reflexão, primeiro sobre qual aluno o professor está preparado para trabalhar, segundo sobre o que é a normalidade.
Sabemos que em uma sala de aula há uma grande diversidade de indivíduos com gostos, preferências, habilidades e realidades sócio-culturais distintas. Crianças/adolescentes com problemas comportamentais, desatentos, que fazem uso de substâncias psicoativas, assim como crianças/adolescentes amáveis e com uma rede social de apoio, mas estaria o professor preparado para lidar com tamanha diversidade?
Levando em consideração que os indivíduos tem peculiaridades e não aprendem, todos da mesma forma, estaria o professor preparado para fazer esse “diagnóstico pedagógico” para avaliar como seus alunos com diferentes histórias de vida, habilidades e interesses aprenderiam melhor?
Se as respostas para essas questões forem sim, levanto outra questão. Se o professor está preparado para lidar com diferentes problemas de comportamento, alunos que fazem uso de substâncias psicoativas, crianças hiperativas, tímidas, desatentas, cujas famílias são desestruturadas e alunos com diferentes fatores que prejudicam a aprendizagem porque não está com o aluno com necessidades educacionais especiais, sendo que as teorias de aprendizagem e de desenvolvimento humano não se diferem quanto à raça, origem socioeconômica, características individuais?!
Seria porque mexe com questões individuais?
Seria despreparo, medo, rejeição?
Seria uma questão mais global que envolve o sistema educacional como um todo?
Essas questões são para iniciar nossas reflexões pois infelizmente não tenho respostas para todos esses questionamentos e acredito que eles merecem mais reflexões por parte de pedagogos, psicólogos, familiares e todos aqueles que de uma forma ou de outra trabalham e vivem a inclusão social.
Esse tema “Inclusão Social” deve ser alvo de inúmeras pesquisas, discussões e reflexões para chegarmos a algumas conclusões e sugestões mais consistentes. A inclusão já é uma realidade e há varias pessoas, famílias e profissionais que, assim como eu, luta para que esse processo se estabeleça de forma tranqüila e que os resultados sejam cada vez melhores !!!
2 Comments:
Por ser um assunto novo para mim vejo que esse texto serve como uma boa introdução ao mundo da inclusão, ou seja, ele consegue em poucas linhas trazer a reflexão sobre o tema e com isso incluir pensadores excluídos.
6/9/05 21:10
Eu, no meu pequeno mundo, quando se trata de inclusão, digo pequeno porque sei muito pouco, não tenho vergonha de admitir, já fui muito preconceituoso. Eu dava aula de matemática, quadros e mais quadros, cheios de formúlas, Eu não dava muito importância a qualquer tema fora do contexto matemática . Depois que tive um maior contato, inclusive com o N.A.I. te confesso que mudei um pouco. Já cansei de ouvir de meus colegas professores das "exatas" essas frases mencionadas no seu texto.
Achei interessante a reflexão detalhada de cada frase, principalmente sobre o "antes da inclusão".
Muito boa a abordagem do tema, nos leva a imaginar conclusões, reflexões sobre o assunto.
Um tema interessante a se falar também que foi até citado é a normalidade.
Achei muito legal seu blog..
16/9/05 16:43
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